domingo, 31 de julho de 2016

Da vida

É quando caem as cortinas
E se apagam as luzes
E a multidão se despede
Que o grande espetáculo
Tem o seu início
Nas ruas cheias de buracos
Dos barracos e palafitas
Nos ventres de mães solteiras aidéticas
No bafo das manhãs
Nas praias sujas
Os pais escrotos que comem
Suas próprias filhas
Eu tô falando da vida
Da vida, meu povo.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Ejaculações, verbos no infinito e a maldita mania de ter esperança

Tenho ejaculado
Gírias contemporâneas
Poesias de duplo sentido
Palavras que são sinônimos
E ao mesmo tempo antônimos
De uma mesma coisa
Tão indecifrável
Também ao mesmo tempo
Tão óbvia.

Tenho ejaculado
A escuridão da noite
Toda a minha delinquência
Em carne viva
Ao enfiar o pênis
Em verbos no infinitivo.

Tenho ejaculado
Na última que morre
Antes que ela me enterre.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Brightness

The brightest thing that exists
Your eyes
your tired eyes
So small
After that you smoked marihuana.

The only thing that reduces the universe
It's the poetry which you carry
Between your breasts.

Quando eu vim pra Bahia

Quando eu vim pra Bahia
As distorções fizeram sentido; enfim
Mas levo comigo, o que você havia me dado
Ipês amarelos e terra queimada.

Quando eu vim pra Bahia
Percebi; as previsões não se realizaram
Mais uma vez, e mais um pouco
Ainda posso sentir teu bafo.

Quando eu vim pra Bahia
Deixei; por ai sem beleza plausível
O que havia, de mais precioso, no final
Paixões sem nexo e concretudes enferrujadas.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Calláte

Calláte
Mi voz tan branda
Que la tarde necesita un poco de silencio
Para descanzar
Pues la tortura tiene el poder
De borrar
Lo que resta de algunas cosas
Que por veces
Y en la mayor parte de las veces
Son sin ninguna obligación
Son sin importancia
Sin razón.

Calláte
Mi voz tan branda
Que los muertos no serán sepultados
El sepúlcro estaba cerrado
Por la imposición de la orden.

Calláte
Mi voz tan branda
No puedo estar a escribir poesias
Que nadie las puede leer.

Calláte

Mi voz tan branda.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Ensaio: O anti-amor ou as orgias bissexuais de Gatti Puggiero


Ensaio



O anti-amor

ou as orgias

bissexuais

de Gatti

Puggiero








ANTI-RIMAS
Todas as coisas
Sobre você
As mais imundas
Aquilo que mais fede
Estou repetindo
Velhas anti-rimas
Porque talvez
Você seja o anti-amor
Da mesma forma
Que eu tenho sido
Anti-poesias.


MENINO
Menino de olhos assustados
Eu também me assustei quando ouvi sua história
Imagino o que tenha visto
Comecei a ter os seus mesmos pesadelos.

Menino de olhos confusos
O seu amor é igual aos pastos de braquiária
Queimando em labaredas
Escurecendo todo o céu.

Menino de olhos distorcidos
Você queimou seu próprio corpo com brasas de cigarro
Vermes de mosca estão
Comendo suas pupilas.


MENINA
Gozei dentro da sua buceta
Depois urinei em seu corpo branco
Não pude segurar a urina
Você estava muito bêbada
Eu também estava
Minha porra escorria
Da sua buceta
Me deu vontade de chupá-la
Para sentir o gosto
Da minha própria porra
Misturada em você.

Fodendo em pé
Encostados na parede
Você reclamou de um pouco de dor
Gozei primeiro do que você
Tive que terminar com os dedos.

O ANTI-AMOR
O anti-amor
Como uma navalha
A cortar seus pulsos.

O anti-amor
Do seu sangue cru
Na cerâmica branca.

O anti-amor
Da água quente do chuveiro
A queimar sua nuca.



CULPABILIDADE
Você sai do abstrato
Para atingir o concreto
Depois faz o caminho de volta
Sempre faz
De quem são as poesias
Que estão lhe torturando
Por dentro
Quem são as estrelas mortas do cinema
Que lhe influenciam
Você sabe que não pode
Culpar os mortos
Pelas suas próprias bobagens.

Você não conseguirá culpar os cegos
Nem os amanheceres e os analfabetos
Pelas suas próprias bobagens.

Nem o mar, nem a cidade confusa
Não poderá culpa ninguém
Pelas suas próprias bobagens.


O ANTI-AMOR (II)
O anti-amor como um útero estéril
Corrói a vida como traças
Aranhas brotam de sua pele
Como furúnculos
Carregados de pus
Sua vida é a incongruência
Porque você não é um ícaro
Mas eu terei que repetir mil vezes
O seu medo
Não cabe mais
Em líricas monossilábicas.


O MAIS SUJO
No teu corpo
Sem tatuagens
Eu sentia o cheiro
Da tua pele
Que depois
Só senti novamente
Quando cheirava
Os meus próprios pulsos.

No teu corpo
Encostando os pés
Em teus pés
Beijando teus lábios.

No teu corpo
Sem tatuagens
O mais sujo.