A poesia escorre pelo meu corpo
Como suor
Como suor
Que corrói o que sou
Minha idade
Minha face completamente molhada
Minhas roupas úmidas
Mãos encharcadas
Que acabaram por rasgar
Os papéis
Nos quais eu tentava escrever
Não era só eu
Ou a parte mais calma de mim
Acabei perdendo o fio da meada
Não me lembro mais daqueles versos.
A poesia circula dentro de mim
Como sangue
Acabei me cortando
Sujei o piso, a casa inteira
Não era sangue
Não era da cor de sangue
Eram versos duros
Que consumiam o tempo
Eram palavras de desordem
Cujo princípio
Contraditório
Gritava
Eram estrofes sem rima
Era a vida lá fora
Era apenas eu, ali
Alguma coisa no caminho
Era apenas eu
Ensanguentado.
A poesia pulsa dentro de mim
Como pensamentos incontroláveis
Na dor do parto
Nas questões mais incompreensíveis
A poesia tenta se libertar e nascer
Nada mais faz sentido
Tanta dor por qual motivo
Já não lembro o que pensava
Não importa
Ela falava por mim
Eu não me sentia envergonhado
Acordei de repente
Não me reconheci
Não reconheci o lugar onde estava
Sonâmbulo
Percebi assustado
Eu havia escrito
Por toda a parede.