sábado, 11 de junho de 2016

Depois do amor

Depois do amor
Só a ressaca infernal
Eu tinha me apaixonado
Pelo sofrimento
Que havia nos seus olhos
Se eu escrevesse
Sobre nós dois
Não seria poesia
Temos sido
O erotismo
Da cidade imunda
E somente migalhas
De uma parte pequena
Que não se resume por ser podre
O medo que nos poda
Que justifica a nossa ignorância.

Depois do amor
Quando fomos mijar
Em privadas quebradas
Sem poesias.

Depois do amor
No baseado que você fumava
Sem ninguém lhe notar
Calmamente.

Terceira pessoa do singular

Nos puteiros nojentos
Que fediam urina
Você bebia do meu copo
Inconsequências.

Tropeçando em cacos de vidro
Você me contava mentiras
Mas eu acreditei
Porque vi seus pés sangrando.

Prefiro falar de ti
Na terceira pessoa do singular
Já que você, pobre agonia
É igual a todo mundo.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Sem nome ou adjetivo

Nos teus lábios
Tenho encontrado uma sensação
Sem nome ou adjetivo
Aquém de mim
Somente aqui
Onde na beira do mar
Eu encontro a paz.

Por isso tenho lido incessantemente
As poesias de Carlos Drummond de Andrade.

Porque você tem um sotaque mineiro
Misturado com baiano.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

No vigésimo andar, suicidas contemplam a cidade

Se formos nos jogar
Segure minha mão, por favor
Tenho medo de altura
Mesmo desejando o infinito
Temor àquilo
Que não é instantâneo
Daquilo que não foge da gente
Algumas coisas não são de plástico
Porque a materialidade desvanece.

Se formos nos jogar
Segure minha mão, por favor
Eu sei que não tenho
Motivos para recear tanto a partida
Mas deixemos as luzes acesas
Já que sabemos  que o final de tudo
Não é um julgamento
Mas sim um banquete
Para os filhos pródigos.