terça-feira, 30 de maio de 2017

Rezar

Comendo lixo
Espalhado pela calçada
Nenhum outro animal
Consegue ser
Tão individualista
Esse pouco de mim
Que tardava tanto em sair
Nas horas em que acordo
De pau duro
Mas cheio de inspiração
Eu queria que você
Rezasse por mim.

Quando o sol vermelho
Entardecer o que já era longe
Lá no Humaitá
Eu queria que você
Rezasse por nós.

Nunca julgue
Uma mulher estuprada
Nem as mangas de temporão
Se você encontrar aqueles meninos
Eu queria que você
Rezasse por eles.

Se você pudesse esquecer
A quantidade de sangue
Que viu naquele lugar
Eu queria que você
Rezasse por si.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Estupro

Nas taperas velhas
Com o reboco já desfeito
Onde pessoas defecam suas próprias vidas
Em sanitários quebrados
Depois se estupram
Usando palavras moralistas
Carregadas de pudor.

Quando um mamãezinha
Quer ser fudida pelo próprio filhinho
Há algo em seu olhar
Que é impossível
Não distinguir.

Eu não conseguia parar de olhar pra aquele crucifixo
Quando aquele velho
Amarrou suas mãos e seus
Pés
Na própria cama
E lhe socava
Naqueles momentos
Em que o tempo
Não passa.

domingo, 28 de maio de 2017

Onde eu estava me prostituindo

Beijava cada parte
Nua
Cada detalhe
Cru
Seu
Eu estava sempre
Esperando por você
Em todas aquelas vezes
Naqueles lugares
Onde eu estava
Me prostituindo.

Hoje seus cabelos
Estão mais curtos
Depois de cheirar tanta cocaína
Você ainda quer conversar
Abrindo um vinho
Parecia que fodia com a garrafa
Com a mente travada
Com o corpo esgotado
Você fingiu agonizar
Junto com os seus anti sonhos
Depois voou com asas
De inseto
Para o fundo dos meus olhos
Me deixando com as vistas turvas
Quase cego
Com os olhos cheios de poeira
Que eu nunca saberei
Quem lhe deu.

No dia que você for feliz
Eu também serei
Este é o pagamento
Para aqueles que perdoam
Tenho sede e fome de pessoas
Intensamente
Seres humanos têm
Cheiro de coentro
Especialmente
Esses ex-europeus
Ex-escravos
Ex-indígenas.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Nudez

Nudez de nossas mãos
Ao tocar o fruto proibido
Estávamos sempre nus
Mas só percebemos isso
De um certo dia pra cá.
Nudez de nossos olhos
Sem óculos escuros
Avermelhados e pequenos
Perante o mar da cidade da Bahia
Que parecia pupilas azul esverdeadas
Ardentes e famintas e sexuais.
Nudez de nossas bocas
Ao tocarem impacientes
O primitivismo
Como o fogo que queima
Desesperadamente
A braquiária uivando
O céu de fumaça.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Raízes

Minhas raízes não estão na terra
Porque eu broto de pessoas
Me findo em pessoas
Eu gosto de gente que fala muito
Que não tem medo de usar as palavras
Como suas, mas são suas
Porque palavras não brotam de árvores
Nem descrevem a totalidade
Das emoções que um ser humano
Pode sentir e fingir
Recorda que até as divindades
São descritas com adjetivos humanos
Gente que nasce chorando
Gente que bebe e chora
O que estava aprisionado aquém de si
Confundido pela luz forte dos dias
Que briga
Por migalhas de pão
Na hora que o estômago geme
Mas que também fecha os olhinhos
Justamente naqueles momentos
Gente que às vezes se cala
Gente que fala
De si
Dos outros
Que fala sem parar
Inventando histórias
Novas palavras
Meias palavras
Que falam por si mesmas.

De mais precioso

No lado sombrio
Da cidade
Onde crianças transam com alicates
Nesses bordéis que fedem o pior da vida
Onde tenho derramado
Tanto sangue sem cor
Por causa da anemia
Em tais dias em que não consigo
Ser feliz
A primeira vez
Que estive no inferno
Me senti muito sozinho
Na última vez
Tive vontade
De fumar
Porque sempre me lembro
Que foi naquele maldito lugar
Onde entreguei
O que eu tinha de mais precioso
Para pessoas
Que eu nem conhecia.

domingo, 21 de maio de 2017

Geometric tile

Smoking marihuana
He could not understand what
It was written in that book
His eyes were fleeing
In details and imperfections
Masturbated with his face
In geometric tile
The world pretended not to notice
But the mind was in a pack
Illustrated of soap powder.

Your tears

In those warm afternoons
When I said that loved you
You showed me something in your hands
Then very carefully
You worked it with a card
I asked you
"Why do you use that?"
You answered me very sad
"Because it is only one
That dries
My tears".

Teatro contemporâneo

O pôr do sol roxo
Nos impressionava
Mas o que mais nos chamou a atenção
Foi a fome
Que a cidade sentia.
Isso pode parecer um absurdo
Mas é somente
A solidão do homem moderno
Descrita como se fosse
Teatro contemporâneo.
Quando você for cagar
No xadrez
Não leia Carlos Drummond de Andrade
Nem julgue os demais
A partir de uma ótica
Tão míope.
Naquelas noites em que as gatas
No cio
Gemem como
Mulheres
Sem mancha.

Que gemiam paradoxos

Depois de foder contigo
Você acendeu dois cigarros de uma vez
Me entregou um
Enquanto eu lhe escutava 
Uma poesia cheia de duplos sentidos
Que você havia escrito
Pensando em outro
Em outras oportunidades
Mas confesso
Que me identifiquei
Porque falava de crueldades
De incestos
Do lado horrível do mundo
Que alguns fumam
Em latas de refrigerante 
Como se fosse crack
Me identifiquei
Porque elas falavam de homens
Que não eram eu
Mas que se pareciam comigo
Na despedida daqueles paulistas
Transamos no quarto dos fundos
Que parecia ser de um deles
Enquanto todos bebiam urina
Pelos cômodos que fediam sangue fresco
De bucetas que tinham a clareza
Dos seus próprios desejos
Mas a porta 
Daquele banheiro
Se abriu de repente
Mas da escuridão
Você viu meus olhos de luz
Que gemiam paradoxos.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

When I feel afraid

You know
You can find me
I am among those guys
Using drugs and dying
I never blamed you for such shit
Not even anyone
When I feel afraid
And I close my eyes
I remember my father
Hitting my mother
I really wanted to write
Verses about the children of Brazil
That work in coal mines.

Os rascunhos do poeta medíocre

Os rascunhos do poeta medíocre
Garranchos sem rima
Sem justificativa prática
Na triste sina do esquecimento
Aprenda com o exagero
E com a podridão
Dos caminhos que temos reparado
O problema
Da nossa loucura
É que despertamos e sempre nos confundimos
Não sabemos qual é o sul ou o norte
Da estrada.

domingo, 14 de maio de 2017

A espera de um transplante de coração

Vou continuar te levando
Como poesias
Mesmo que as narinas feridas
Estejam sangrando
Devido às quantidades de tentativas
De te esquecer
Ou aqueles meninos que morrem jovens
Com problemas cardíacos
A espera de um transplante
De coração.

Vou continuar te levando
Amarei por mim
Amarei por ti
Assim o sol banhará nossos cabelos
Enquanto fumamos cigarros
Deitados na grama
Mas nós não temos nada
Para deixar aqui
Fomos alguma coisa
O instantâneo
Talvez,

Vou continuar te levando
Mesmo não pensando em ti
Como antes
Minhas raízes não estão na terra
Porque eu broto de pessoas
Me findo em pessoas
Eu gosto de gente que fala muito
Que não tem medo de usar as palavras
Como suas, mas são suas
Porque palavras não brotam de árvores.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Tão óbvio

Nas prostitutas e no batom que elas traziam
Em quartos no centro da cidade
Copos que se quebram
Se transformam em mil
Você sabe que pode
Me encontrar
No mais insignificante
Dos sentimentos e nos pensamentos
De dias de luz
Mesmo que a poluição
Da cidade
Fez cinza
O céu.

Você sabe que pode
Me encontrar
Eu estou junto daqueles meninos
Usando drogas e morrendo
Nunca te culpei por tais cagadas
Nem a ninguém
Quando eu sinto medo
E fecho os meus olhos
Me lembro do meu pai
Batendo na minha mãe
Eu queria mesmo
Era escrever poesias
Sobre as crianças do Brasil
Que trabalham em minas de carvão.

Você sabe que pode
Me encontrar
Na hora mais silenciosa do dia
Quando a cidade nem percebe
Que está calada
Eu te fotografava em cores
Você sorria pra mim
Depois muito sangue escorreu
Das suas pernas.

Você sabe que pode
Me encontrar
Porque eu sou assim
Tão óbvio.

domingo, 7 de maio de 2017

Das noites nos jardins da Espanha

Das noites nos jardins da Espanha
Sob o vapor d'água
De espaços úmidos aquecidos
Que raramente chegam
Aos sessenta graus
Mas ilhados no todo
Reproduzem tais circunstâncias
No corredor
Um cartaz alertava
Algo que todos já sabiam
Portas de vidro
Que transpiravam.

Das noites nos jardins da Espanha
Eu quase não posso ouvir sua voz
Em meio àquelas quase-pessoas
Que suavam descontroladamente
Você também deve estar
Eu estou naqueles lugares
Onde crianças sentem fome.

Das noites nos jardins da Espanha
Era possível enfiar o pênis desprotegido
Em verbos censuráveis e no infinito
Mas essa pele cheia de manchas de sífilis
Você tem que aceitar
Eu sou esse tipo
Que toma taxi pro banheiro.

Das noites nos jardins da Espanha
Uma melodia enlouquecedora
Apagava os pensamentos.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

La gente que está loca

Me gusta la gente que está loca
Que quiere todo
Que tiene ganas de todo
Al mismo tiempo
Que entardece como el sol
En los otoños
Cuando el sol se pone
Por detrás de las montañas deforestadas
Adonde la brachiaria
Arde en fuego.

Me gusta la gente que está loca
Cuando ellas fuman
Cigarrillos atômicos en aquellos sitios
Llenos de aire
Contaminado.

Me gusta la gente que está loca
Pues los locos
Nunca tienen miedo
Nunca sienten fastídio .

Me gusta la gente que está loca
Porque despiertan sedientas
Com las manos heladas
Con el corazon latindo.

Me gusta la gente
Que está loca.

Mujeres

Somos fragmentos
De algo incomprensible
Tragábamos
Con dulzura
Como mujeres
Aquellas mujeres
Con las uñas esmaltadas
En rojo.

Me gusta el sexo de las chicas
Cuando las vaginas sabem
Lo que quieren.

Hay tias honestas
Que aman y odian
En la misma intensidad
Y al mismo tiempo
Hay tias muy sinceras
Porque las mentiras de una mujer
Son siempre
Muy sinceras
Hay chicas que sufren
Algunas lloran
Otras disfrutan
Otras pretenden.

Las mujeres siempre vuelan
Calladas
Despues de sus orgasmos multiples.