domingo, 30 de abril de 2017

Andreia Roseno

Andreia Roseno, tú no sabes
De las cartas que yo escribí
Ahora que no hay más nada
Encuentro casi perdidos
Nuestros recuerdos
Dibujados
En papeles higiénicos
Fotocopias de nuestro miedo.

Andreia Roseno, concordamos
Que el amor duele y no pasa
Pero eso no puede cambiar mucho
Nuestras deudas son impagables.

Andreia Roseno, cuando acostares
Por favor, controla tus pensamientos.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Não

Ser apenas mais um poeta
Entre muitos
Às vezes acordo com uma sede 
Muito forte
Sede de vida
De pessoas
De lugares
Quando eu estiver
Sem roupas
Pensando em ti
Quando tu estiveres gozando
Num hotel barato no centro da cidade
Quando tu estiveres chorando
Em algum banheiro junto com as baratas
Quando tu estiveres amando
Mas acho que isso não é possível
Teu amor...
É melhor falarmos de teus pesadelos
Pobre criança deslumbrada
Porque a crueldade sempre nos fez
Dizer não
Insistimos eternamente
Dizendo
Não.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Falar

Deixe as paredes falarem
Por si mesmas
Deixe o tempo falar
Já que os lençóis que não sujamos
Não podem falar nada
Sobre aquelas flores
Que comíamos
Das poesias que escrevíamos
Dos corpos que mergulhavam
No mar azul que era
Os nossos corpos
Você nunca esqueceu
De mim e me dizia sempre
"Perdonar es divino".

Eu não fui nada mais que o mar
Ao molhar teus pés.

As tardes foram somente um capítulo
Do muito que ocorreu conosco
Quando as nuvens estão muito negras
Mas não chove na terra rachada
Quando a tristeza é muita
Os olhos também não choram.

A existência foi apenas um momento
Disso que estamos plantando
Sem o objetivo
De colher.

Palavras duras

Destes olhos famintos
Destas mãos sedentas
O que essa pele suada
Quer tanto me dizer
Exalando dos poros
Uma linguagem não-verbal
Pois chovia lá fora
E aqui dentro também
Uma chuva amarela
Que a gente não conseguia
Beber.

Depois do cruising
Me perguntei o porquê
Pois te vi
Passando um batom bem vermelho
Seus lábios doces
Falavam palavras duras
Que me acompanharam
Por todo o caminho
Me inspiram
Também me destroem
Porque são palavras sujas
As que saem dessa boca pura
Qualquer um que estivesse
Sempre pensaria nelas.

Você me contou tristemente
Que foi estuprada quando menina
Mas que não tinha
Nenhum ódio pelos homens
Porém não confiava em nenhum
Eu beijei seus lábios
Que já estavam um pouco frios
Enquanto sentia um arrepio incontrolável
Eu não tinha palavras
No final
Era você que me consolava.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

BR-116

A BR-116 e suas prostitutas boçais
Nas madrugadas infernais do Brasil
Pais de família sob o efeito do
arrebite
Cortam as curvas e as retas
Veias e artérias
Depois em banheiros destruídos
Lavam a rola.

A BR-116 e seus espíritos sem luz
No sol ardendo o asfalto escaldante
Os vícios em postos de gasolina
As depressões nos pátios do sertão
Naqueles momentos de eternidade
Onde se mescla a vida e a morte
O chegar e partir
O ser, o estar e o haver.

A BR-116 e a fome desgraçada que esse povo sente
Suas crianças pelo acostamento
Negociam espigas de milho sapecadas
Em pedágios delirantes
Em cidades fantasmas
Onde se pronuncia um português
Cheio de sotaque
Como gente sem os dentes.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Calafate

Após o calafate fazer o seu trabalho
Veja que eu trago as estopas
Depois das bombas químicas e das minas
Terrestres
Eles têm se cortado
Com estiletes de lâmina
Oxidada
Com seringas contaminadas
Com ideias que paralisam
Que negam
Que não se permitem
Enquanto você também sangra a si
Mesma
Com cacos de vidro
Ao tentar se masturbar
Ao tentar não viver
Porque eu estava em algum lugar perdido
Totalmente entorpecido
Pois quando percebi
Eu estava nadando em um lugar lindo
Com gosto de leite fresco
Saído das tetas de uma mãe
Mas a tarde cai tão dolorosa
No calvário
Na cidade
Na calçada
Em nós mesmos
O meu maior pecado
Foi não amar.

Após a vida passar mais um pouco
Nós temos que aceitar
Que o maior pecado deles
Foi o erro banal de conjugar
Todo o tempo
A primeira pessoa do singular
O seu maior pecado
Foi se negar
Todo o tempo
Você deveria ter fumado um baseado e ter
Ficado em casa
Naqueles dias de violência
Porque você sabe muito bem
Que o meu maior pecado
Foi não amar.

Após todos gozarem e se limparem
Eu não tenho problemas
De ligar o gás
Já que o meu maior pecado
Foi não amar.

domingo, 9 de abril de 2017

O que eu tenho entre as pernas

O que eu tenho entre as pernas
Além de discórdias, poesias, ideias sem nexo e fotografias
Em preto e branco
Eu trago remendos da totalidade
Como um devenir
É grátis
Não é pecado.

O que eu tenho entre as pernas
Você vai se surpreender
Quando bem de manhã
Desperto com a cabeça no óbvio
Com um machado na mão
Eu corto a lenha
Em lascas pequenas
Porque penso em acender o fogo
Daquele velho fogão a lenha
Depois fico rindo da sua cara e lhe digo
É grátis
Não é imoral.

O que eu tenho entre as pernas
Tais líricas escorrendo e se criando
Se recriando, se autodestruindo
Elas gozam, se lambuzam, depois dormem
Depois acordam e gozam de novo
Múltiplos orgasmos
Filosofias ocidentais que compõem
O marxismo contemporâneo
Ou Mestre Gabriel no meio da Amazônia
Bebendo o vegetal com os índios
Deveria estar escrito
É grátis
Não mata.

O que eu tenho entre as pernas
Uma depravação contínua
Mas bem diferente deles
Eles se ferem a eles mesmos
Depois fodem eles mesmos
Mas saiba que  amor também dói
É grátis
Não tem culpa.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Naquelas tardes de muito calor

Naquelas tardes de muito calor
As gotas de suor
Escorriam
Delimitavam as curvas e as linhas
Do teu corpo
Como se desenhassem caminhos
Como se indicassem
Destinos
Como se falassem
De beijos
Fumávamos porros juntos
Mas nos perdíamos
Em palavras.

Naquelas tardes de muito calor
Quando eu dizia que lhe amava
Você me mostrava algo que trazia nas mãos
Depois com muito cuidado
O trabalhava com um cartão
Eu lhe perguntei
"Por que você usa isso?"
Você me respondeu muito triste
"Porque é a única que seca
As minhas lágrimas".

Naquelas tardes de muito calor
Sonhávamos com o mar
Mas sempre acordávamos
Com sexo oral
Depois de tudo, você me disse
Que "o amor não tinha raízes
Porque era sepulcro vazio
E mesmo nos momentos mais calmos
O nosso não passava de incesto"
Eu não tive respostas
Menos contraditórias
Mas você continuou
"O amor que você sente
É apenas dor, nada mais"
Eu só percebi tudo
Quando depois você me confessou
Que sentia tesão
Pelo meu adultério
E se imaginava nele.

Naquelas tardes de muito calor
Dois corpos fodiam
Pensando em tantas coisas.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Caixa de Pandora

As drogas químicas e as marcas de prostituição
O cinzeiro lotado de bitucas de filtro vermelho
Mas paga muito caro para caminhar para a morte
Você tem se penetrado com armas de fogo
Est-ce que tu penses à moi
quand tu la baises?

Depois que a ressaca quase lhe matou
Foi estúpido ver você mijando de quatro
Você gozou pela cidade, no concreto, na parte mais linda da vida
Mas você terá que limpar sua parte
Est-ce que tu penses à moi
quand tu la baises?

Eu vou abrir sua caixa de pandora
Vou queimar suas calcinhas
Vou apagar seu baseado
Vou rir da sua cara
Est-ce que tu penses à moi
quand tu la baises?

terça-feira, 4 de abril de 2017

Nudez

A surdez da noite
Já se misturou com a nudez
Da cidade de joelhos
Fazendo sexo no pelo
Porque finge, mas talvez saiba
Que ninguém está ouvindo
Seus lamentos sexuais
Porque seu gozo
É dor
Seus anseios cheios de preconceito
Essa angústia
Tal sina dos pecadores
Dos assassinos
Dos drogados
Dos ninfomaníacos
Dos bissexuais
Dos poetas
Dos pais que comem
As próprias filhas
Do céu azul, sem nuvens.
A cidade estava muito ocupada
Pois confundiu nós dois
Com as flores que nascem
Da sujeita das ruas
Até as flores são estupradas
Neste lugar.
A cidade ejaculou poesias
Que fediam esgoto a céu aberto
Mesmo assim se manteve aflita
Após chegar a menstruação atrasada.
A cidade sentia prazer
Em usar cocaína
E depois forçar o vômito.

Pensando em você

Sim, porque eu estava pensando em você
Naqueles momentos
De tortura e medo
Onde só você sabe
E se esconde em outros vocabulários
As gírias contemporâneas
Que não tem tempo definido.
Sim, lógico que eu estava pensando em você
Quando participava daquelas festas da carne
Apodrecida
Que outros chamam abertamente de
Orgias
Me lembro que antes
Nós vomitávamos disparates
Depois gritávamos desatinados
Num quarto fechado cheio de vapor
Com forte cheiro de suor pedante
Corpos diferentes que iam e vinham
Concluíam e recomeçavam.
Sim, pois eu estava pensando em você
Enquanto masturbava poesias excêntricas e caóticas
Sobre amores sem futuro e os filhos egoístas
Que batem nos próprios pais
Que não quisemos ser
Já que depois de tudo
Ao gozar na parte mais frágil da vida
A gente remendava
Tilangos
Curávamos nossas loucuras
Com mais loucura
Mas o incurável despertou com sede
Depois de ter pesadelos toda a noite.
Sim, claro que eu estava pensando em você
Especialmente naqueles instantes
Nas quais minhas coxas fediam
Água sanitária.
Sim, eu estava pensando em você
Porque eu também estava na cova
Com os leões.