sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Tudo sobre o menino de olhos castanhos

Tudo sobre o menino
De olhos castanhos
Os vícios baratos
As mentiras sem razão
Corpos nus desbotados
Um pano fino
Seda ou tafetá, talvez
Os lençóis sujos
O cinzeiro no pé da cama
A garganta irritada
De tanto fumar
As narinas feridas
De tanto cheirar
Os olhos vermelhos
De tanto entardecer
O lixo espalhado pela casa
Junto com as roupas sujas
A vida pelo chão
Eu já sei
O banheiro é o seu único amigo
Quando você tem vontade
De chorar
As prostitutas da Rio-Bahia
Não sabem seu
Nome
Mas saiba que nada
Passou.

Tudo sobre o menino
De olhos castanhos
Mais algumas coisas suas
Que ficaram aqui
Você deveria perdoar
A sua mãe, o seu amigo, o seu irmão
Os olhos dele brilhavam
Quando lia
Mulheres
De Bukowski.

Tudo sobre o menino
De olhos castanhos
E a parte mais dolorosa
De se conjugar o verbo
Viver.

Tudo sobre o menino
De olhos castanhos.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Natal

É Natal na América Latina e em suas favelas
É Natal na sarjeta
Também no calvário
Antes e depois de se matarem
Com palavras enferrujadas
Escutem as risadas do agora:
É um amigo-secreto de produtos chineses
Estão trocando sobretrabalho chinês
Estão trocando sentimentos vazios e retornáveis
Estão trocando desejos de um mundo pela ordem
E a ordem latia
Como um cachorro na corrente
Nas economias agroexportadoras
Regidas pela superexploração
É Natal nas salas
De tortura
Após o silêncio ensurdecedor
Dos interrogatórios
Dos campos de soja
A senzala estava
Escancarada
O silêncio
É uma faca de serra
Com os dentes
Desgastados.





terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Os filhos do Golpe

Os filhos do Golpe
Não nasceram de úteros
Acabaram saindo pela garganta
Cortada
Eu queria escrever poesias
Honestas
Mas agora que chove na metrópole
As doenças
Estão acordando
Eles fumam com a
Garganta cortada
Por isso
Sentem tanta paranoia
O seu sangue escorria devagar
Aquela bisca com a morte
Não se findava
O pasto estava sujo
Seres humanos que comem lixo
O querer
Inclusive as montanhas desmatadas
Também querem
Não há saciedade
Tudo lateja
Nada estanca.


terça-feira, 12 de dezembro de 2017

É claro que o amor é bem maior do que isso tudo

É claro que o amor
É bem maior
Do que isso tudo.

Não há navalha
Mais afiada
Do que palavras
E como nos ferimos!
Indigesto
Percurso
Transponível
Transbordante
Amanhecer
Tão triste.

Nunca conheceríamos a paz
Porque nascemos
Para errar
Eu amo
Tudo o que você odeia
Que não tem o dom
De virar uma prosa sensível
De imitar um droga barata
De simular uma foda paga
Terminarei
Com os dedos.

Sentirei sua falta
Quando eu estiver com outras putas
Usando antônimas.

É claro que o amor
É bem maior
Do que isso tudo.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Descansar

Nos escombros da vida
Onde crianças perdem
As pernas
Aos brincarem
Em áreas
Com minas terrestres
Abandonadas.

Enquanto eles esperam
Pela felicidade
Outros esperam por justiça
Você vai descansar
Enquanto cuido
Do seu sono
Depois que passei sal
Nas suas feridas.

Se você acordasse
Cedo
Teríamos muito para contar
Mesmo que seja difícil
Usar adjetivos
O único poeta
Que você não assassinou
Fui eu
Mas não era a mim
Que você buscava.

Você procurava por elas
As poesias de amor
Que eu teimava
As crianças
Que não têm família
O perfume de estranhos
Que você esbarrou
Pelo tempo.

O que você esperava?
Uma poesia que falasse do belo?
Aqueles meninos
Vivem no gerúndio
Usando drogas e morrendo
Outros se masturbando
Outros estuprando.

Você deveria descansar.