terça-feira, 21 de novembro de 2017

Vermelho sangue

Vermelho sangue
Que as santas choram
Sangue tinto
Da primeira
Menstruação
Tomate sangue
Dos corpos sem ficção
De gente
Que não foi corroída
Pelo tempo
Sangre rubro
Desses que morrem
Tão jovens
Vermelho scarlet
De bocas que se desejam
Que se amam
Desesperadamente
Mas acabam por estuprar a si mesmos
A se destruir
Ao maldizer
Ao se ferir
Vermelho alaranjado
Das orgias
Incandescentes
Sangue sangria
Que derrama
E derrama
Termina por virar
Poesia.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Da condição do outro

Mas não se esqueça
Da condição do outro
Porque se aproveitar
Da insegurança e da fraqueza alheia
Também é uma forma
De tortura
Em alguns sentidos
Pode até ser
Um tipo
De estupro
É claro que você poderia ficar rico
Vendendo sonhos
Destruindo corações
Armando
Arapucas
Fingindo desfrutes.

Mas não se esqueça
Da condição do outro
Porque pessoas
Não são
Poesias
No coração
Não cabem móveis
Nem orações
Nem campos de concentração.

Mas não se esqueça
Da condição do outro
Na cidade dos suicidas
Eles buscam
A morte
Mas ela se afasta deles
Quando se tem muito
A pagar
Não se precisa de pressa
Para pedir a conta.

Mas não se esqueça
Da condição do outro
Porque lá na cruz
Lhe prometi
Que estarias ainda hoje
Comigo
No paraíso.

Falar

Falar a língua vulgar
Do povo
Como ejaculações
A vida em devenir
Porque a existência
Só se efetiva
Como uma probabilidade
Um
Entre milhões
Mas o verbo ser
Não cabe
No espaço
Ser não é estar
Ser
Não é haver
Palavras novas e velhas
Sentidos particularidades
Gírias modernas
Gozar fora
Pra não ter problemas.

Falar a língua inculta
Da vida
Com suas coxas
Os olhos falam
A pele fala
A respiração fala
As paredes falam
São discordâncias verbais
Tratam-se de histórias
Que mesclam a mentira e a verdade
Tudo na vida
É uma mistura
De mentira e verdade.

Falar a língua sexual
Das bocas que se ferem
Das tardes
Quentes
Já que a propriedade privada
É bem mais que
Pronomes possessivos
O amor não é um verbo
Não se conjuga
Não tem tempo
Não tem pessoa
Não tem Pessoa.

Falar a língua maternal
Que Deus escreve certo
Em linhas
Tortas.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Diabólicos

Nas esperanças
De grávidas drogadas
Que desistiram
Do aborto
Que fumam um cigarro
Atrás do outro
Depois
Leem
Poesias
Porcas
De um poeta
Que o seu nome
Não faz
A menor
Importância.

Por causa de ti
As horas
Se consomem
Como parafina
Só um pouco de mim
Tem se resguardado
Da chuva
Sei que você
É uma totalidade
E eu sou
O seu complementar.

Nas noites
Em que não há
Mentiras
Você sempre sabe
Que nada passa
Até o nascer
Do dia.

No dia que você
Conseguir
Se feliz
Não vai precisar
De vícios e de
Canções.

Eu metia em você
E seus olhos
Eram
Diabólicos.