sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Romances caóticos

Não há nada mais sincero
Do que a masturbação feminina
Mesmo que você
Ainda esteja muito frágil
E tenha que esconder
As marcas roxas
Que trazes na alma
Uma mulher nascida
Para o sofrer
Outras palavras distorcidas
Outras verdades alucinadas
Outras rosas vermelhas de papel
Uma mulher nascida
Para o caos
Por que você não se parece
Com as mulheres de Atenas?

Uma mulher nascida
Para a depressão
Você parou de fumar
Cigarros
Você quer voltar pro
Teatro
Você quer escrever
Romances caóticos
Diz adorar
Literatura feminina
Mas eu acho que é muito tarde
Você está morta.

Uma mulher nascida
Para chorar
Depois que tiraram
Seus demônios
Você vendeu tudo
E passou a seguir o grupo.

Uma mulher nascida
Para errar.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Caatinga

Todas as coisas
Que falam sobre ti
Como sentimentos
Sem definição
Como a caatinga
Da catingueira, imburana, jurema-branca
Mandacaru, coroa-de-frade
Os rios perenes
Que deságuam
Em nós
Úlceras que latejam
Livros velhos amontoados
Restos de drogas pela casa
As seringas de heroína
Palavras desnecessárias
Se o todo reproduz
O analfabetismo
Como instituição
Não adianta uns gatos pingados
Estudarem
Porque continuarão
Reproduzindo o todo
Analfabeto
Não estou falando
Da cocaína
Porque é só chover
Que a braquiária seca
Volta se esverdear
Muito menos
Da prostituição
Porque é apenas uma versão
O que sabemos
Sobre nós mesmos
Nem estou falando
Da bissexualidade
Porque o amor
Não escandaliza
Mas nunca reproduz
O pudor.

domingo, 3 de setembro de 2017

Nada mais que a incoerência

Eu sou a incoerência
Especialmente
Quando fodo com alicates
Em momentos como se
O próprio mundo
Também não fosse incoerente
Ontem eu sonhei
E isso foi angustiante
Quase desacordado
Sob o efeito de remédios sem bula
Me lembrei
Daquela orgia
Com aquela família
Naquela casa
Onde sempre transei
Me lembrei
Daquela menina
De olhos verdes sem fome
Que como o vento
Desapareceu
No início, eu imaginei que ela estava contaminada
Depois eu sonhava
Que ela tinha outro
Isso tudo para justificar
O que não posso controlar
Não se controla verbos
Muito menos o verbo ter
Mas a fé brotava
Como roseiras atômicas
Mas a paz ainda não se deixava
Encontrar
Não há paz
Quase se veste uma
Camisa de Vênus
Sob o efeito do álcool e drogas.



Eu sou a incoerência
Justamente
Quando meus olhos estão vermelhos
De tanto chorar e de tanto entardecer
Poucas coisas me fazem chorar
Mas tenho chorado
Ao ler poesias de amor
Que não foram escritas
Para mim
Mas no fundo
Falam de mim
A incompreensão me faz chorar
As tardes quentes
Do Brasil.


Eu sou a incoerência
Somente
Nestes instantes onde os vagões
Lotados de trabalhadores
Forçados
Param na contramão.


Eu sou a incoerência
Logicamente
Em todas as minhas tentativas
De viver.

sábado, 2 de setembro de 2017

Ver e sentir

Tudo o que você é
Não passa de um mero
Ponto de vista
Da mesma forma
Que o criar e o destruir
São apenas
Duas formas diferentes
De enxergar.

Tudo o que você pode
Seria tão grande
Se a teimosia não fosse
O teu pilar
Santa ignorância
Depois de distribuir
Os dons se acabaram
Ao homem
Não lhe sobrou nada.

Tudo o que você será de vez quando
Como algumas travestis
Nas ruas do centro da cidade
Oferecendo o que elas têm de mais precioso
Além do próprio corpo
A juventude eterna
A imortalidade
O vírus da AIDS
Como ex-fumantes
Ex-presidiários
No fundo todo alcoólatra
Está se enganando
Como feridas incandescentes
Tios pedófilos
As flores que brotam
Da sujeira das ruas
Elas gozavam e os olhinhos
Se fechavam.

Um homem comum

Que nasça
Que morra
Que falem
Eu nunca fui mesmo
Um homem comum
Eu sou um pé de mamão macho
E por você
Já chorei, já escrevi poesias
Fiz tanta loucura
Fui embora
Voltei
Pichei muros
Queimei como a braquiária
Morri de tanto
Ser e estar e haver
Ressuscitei no terceiro dia
Já tomei taxi pro banheiro
Depois que fui expulso
Do céu
Voltei a morrer nos outros dias
Fedi igual arruda
Igual incenso, igual macumba
Conversei com o diabo
Em pleno transe
Sobre o capitalismo e poder do mundo
Até ele se cansar de mim.
E por você
Já fugi de hospitais
De manicômios
De prisões de segurança máxima
De consultórios de dentistas
Já fui um tolo
Já fui um bobo
Como folhas de taiobas
Como o capim cidreira.
E por você
Eu mentia descaradamente
Te acompanhando
Até o calvário.
E por você
Já fui carne
Já fui espírito
Já fui pássaro
Sabiá
Cuitelinho.