domingo, 19 de março de 2017

ENSAIO POÉTICO: ORGIA

Por S. Coitelinho














AS ORGIAS
Só eu sei o que vi
Portões fechados e muros baixos, pichados
Só você sabe o que sentiu
As algemas apertadas
O gosto de morrer e continuar
Vivendo sem viver
Temos fudido com tanta gente
Em busca daquilo que
Nunca teremos
Nós mesmos
Mas isso não é um crime.

Só eu sei o que vivi
Na Br-116, em Feira de Santana, em Teófilo Otoni
Só você sabe o que aconteceu
Choques elétricos, poesias e flores
Naquelas conjunturas
Onde os dias violentos
Já amanhecem cansados
Depois de noites de orgia.

Só eu sei o que passei
Quando entreguei meu corpo de braços abertos
Só você sabe o que escutou
Verdades alucinadas e sonetos
Como beijos com hálito
De nicotina
Tal como rolas
Com gosto de bucetas.



CAMALEÃO
Porque o mar é o único
Que não mente sobre nós dois
Tenho pensado em ti
Todas as vezes em que erro
Eu ainda te espero
Para pedir o teu perdão
E te perdoar por tudo
Eu te amo
Porque você é a contradição
Porque as nossas orgias
Têm apenas nos denunciado
Eu lembro que lhe disse
"Não consigo imaginar
Você chupando uma rola"
Você me respondeu
Com um sorriso irônico
Com os olhos alucinados
Com os dentes mordendo
"Relaxa
A vida é como uma bisca
Você não pode escolher
As cartas que param
Na sua mão".

Eu ainda te espero
Arco-íris
Por causa das suas cores
Camaleão.



EL DESEO
A nudez exposta nas esquinas
De corpos que gratuitamente
Se sangram
Depois se cagam
Foi corroendo o tesão
Pela vida
Na pele, sem medo
Na pele, sem medo de nada
Traz o que esse lugar incômodo
Tem de melhor e pior
Mas nada acaba
Quando amanhece
É muitas vezes quase natural
Sonhar muito e dormir pouco
Acorda-se com mais vontade.




SEDENTOS
Meu caralho em tua boca
Lhe deixava sedenta
Tua buceta em minha boca
Me deixava sedento.

Era tua mão que apertava meu
caralho
Aquilo era poesia sexual
Eu rasgava tua genitália
Enquanto confessava segredos banais
Enquanto desabafava gemidos.

Meu caralho em tua boca
Lhe deixava sedenta
Tua buceta em minha boca
Me deixava sedento.

Era você que esfregava a xana em
meu nariz
Mas o fio terra que trocamos me fez
gemer
Eu gemi poesia de ogro
Anti-sentimental e mal educado
Gozei em teus peitos e te confessei
segredos.

Meu caralho em tua boca
Lhe deixava sedenta
Tua buceta em minha boca
Me deixava sedento.




DEPOIS DA ORGIA
Depois da orgia
Eu fumei um cigarro
Cabisbaixo
Mas consegui ver as luzes
Que por um momento
Não sabia
Se eram da cidade noturna
Ou do céu
Por um momento
De relance
Tive uma visão tão límpida
Católicos que ilustravam o chão das ruas
Com figuras góticas
Numa quinta-feira.

Por um momento
Me vi em Minas
Numa manhã de névoa e tristeza
Parecia que aquelas taperas
Me imploravam pra voltar
Mas um retorno
Que eu não sei para onde
Nada me pertence
Nem o amor que eu sinto
Nem meu próprio corpo
Visto que pessoas e vermes
Hão me devorado.

Por um momento
Não pensei na morte
E olhei para trás
Percebendo que não já haviam
Espíritos obsessores
Naquele lugar
Mas a totalidade olhava para mim
Com uma cara moralista
Me recriminando
Rasgando minhas poesias
E ao olhar no fundo dos meus olhos
Me repetia
Quem você pensa que é?


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