quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Uma poesia de amor

Parecia imensa
Mas era apenas
Uma poesia de amor
Sem autoria, sem destinatário
Sem motivo
Por isso
Falava de nós
Porque o amor é caótico
O amor também fere
Também estupra
Também mata
E o nosso amor
Não poderia ser diferente
Você nunca foi ao Porto da Barra
Mesmo que tenha sido
Naquele maldito lugar
Onde fiz as minhas mais profundas
E dolorosas
Promessas de amor
Nenhuma poesia falava de ti
Porque eu nunca fui bom
Para escrever verdades
Nenhuma carta poderia ser enviada
Porque o suicídio
Também é uma superestrutura
Um grande latifúndio
Intransponível
O amor é um imenso retângulo
Delimitado
Por cercas de arame
Farpado
Eu sempre penso em ti
Quando leio jornais esportivos e poesias contemporâneas
Que falam
Daquele tipo de gente
Que não tem final feliz
Não tem justiça
De lágrimas
Que nunca serão notadas
Vozes nunca ouvidas
Porque o que nos une
É muito mais do que a língua
Do que as coxas
Mamilos
Genitais
Você urinava
Em mim
E essas palavras
Perdiam o sentido
Se distorciam
Viravam outras dez.

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