sábado, 5 de maio de 2018

Canibalismo

Façam o total silêncio
E deixe-o falar
Suas palavras dão liga
A algo que antes
Era somente o caos
Elas estão
Pela materialidade
Repare a cidade violenta
Toda pichada 
Cheia de lixo
Deixe as crianças correrem 
Deixe os velhos falarem
Ainda é cedo
Pra todo lugar que vou.

Deixe-o falar pelos famintos
Você não sente o perfume infalível 
Da fome?
Deixe a voz dele
Ecoar
Nos campos de milho transgênico 
Nas tardes quentes
Nas favelas
Nas palafitas 
Nos grandes centros
Nos lugares abandonados
No concreto
Nos campos de refugiados
Nos sonhos de moradores de rua
Dormindo na calçada
Entre jornais
Antes que cheguem os homens
Ou os catadores de papel.

Ele quer falar
Pela boca do povo
Depois todo mundo comia o corpo dele
Bebia o seu sangue
E repetia
Suas palavras.

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