sexta-feira, 20 de maio de 2022

Porque de mim

 Porque de mim
Já não resta dúvida
A verdade sob o sol
Nossa pele avermelhada
Desmentia-nos
De garganta seca
Te desejei
Enquanto bebias água
Te comia
Com os olhos
Eu te via
Gozar.

E você gozava
Com fúria e paixão
Ao furar meus olhos
Te vi desbotando o azul do céu
Te ouvi distorcendo palavras 
Pintando o sete
Construindo ídolos pagãos e religiões
Que você não tinha a disciplina necessária
Para cultuar e seguir
Eles se voltaram contra você
Vomitando rios de ácido
Chuvas ácidas
Aqui você está segura
Por enquanto.

A tarde fria de Juiz de Fora
Denunciava a nossa estupidez
O perigo estava em quadris 
Que nos pressionava por sexo
Sentir tesão era algo vergonhoso
Crianças abortadas choravam
Em latas de lixo
Eram almas muito sofridas
Sair pelo mundo é o mesmo que
Se fechar em si mesmo
A parte mínima reproduz o todo
As tardes mais lindas
Que já vi.

Um comentário:

  1. Poxa, Alemão, passei por aqui por acaso, após tantos anos... mal sei como parei aqui. Sabe, me emocionei. Fiquei feliz de saber que ainda escreve. Que inspiração, que poesia visceral. Você é um resistente, cara, e antes de tudo alguém que sente. Parabéns por sua obra.

    Abraços

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