terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O deus da guerra

Os poetas que morrem
Nos campos de batalha
Pelo mundo afora:
O deus da guerra
Sem dentes
Cego de um olho.

Os poetas que morrem
Ensaguentados
Em alguma cova sem nome.

Os poetas que morrem
Do nosso lado
Em trincheiras  

Muros pichados de vermelho

Sonhei com imagens distorcidas
Que não se encaixam
Nem fazem sentido.

Como rosas vermelhas desbotadas
Pelo tempo, nem as rosas de plástico
Sobrevivem ao tempo.

Eu quero o teu lado escuro
Esse que ninguém enxerga
Que ninguém compreende.

Do amor e outras poesias medíocres

Me leve pra um lugar tranquilo
Onde eu possa descansar
Pois meu fardo é insuportável:
Já que você se impregnou
Como um baseado
Entre os meus dedos
Amarelados
Com tuas mãos
Nas contas do meu abdomem
Já que você se misturou
Nos meus pelos do peito
Nos pelos do umbigo
Agora que você se enrolou
Nos meus dreads
Agora que você se iluminou
Posso te ver sem lupas sujas
Já que você transtornou
Todas as manhãs.

Me leve pra um lugar tranquilo
Onde eu possa descansar.


Moana Grandinetti

Moana Grandinetti
Essa de lábios vermelhos
Provocantes
Deixava sua marca
Nos filtros de cigarro
Tenho
Pensado em você
E escrito poesias censuráveis
Eu já te vi senhora
Já te vi puta
Já te vi dama de copas
Num baralho marcado
Já te vi deusa pagã
Em altares de sangue
Com serpentes de bronze
Bezerros de ouro.

Moana Grandinetti
Essa que bebia campari
E pintava o sete de mesma cor
Quantos poetas
Você já assassinou?
Eu te dei adeus
Num aeroporto abandonado
No meu teatro, você foi assim
No meu mundo, você foi assado.

Moana Grandinetti
Essa má influência
Ela sempre tinha medo
Da monotonia
Dizem que o perigo
É da cor vermelha
Dizem que o amor verdadeiro
É para sempre.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A Bahia depois do almoço

Tenho vivido no limite
Na borda do tempo
Entre coxas
Entre lábios.

Nos dias que não bebo
Tenho escrito poesias
Ao enfiar o pau duro
Nas esquinas.

Tenho sido mar e lua
A Bahia depois do almoço
Conversando com estranhos
Fumando cigarros.

Verdade absoluta

Na sala destinada
Aos interrogatórios
Toda a aberração da raça humana
Entre choques elétricos
Porradas na cara
Nos rins
Até algum órgão ser perfurado
Tem verdade absoluta
Nos vômitos de sangue
Na face destruída
Nas marcas de brasas de cigarro
Tem verdade absoluta
Nos chutes e nos cacetetes
Tem verdade absoluta
Num rato raivoso
Dentro da buceta
Tem verdade absoluta
Na quase-pessoa toda cagada e mijada
Tem verdade absoluta
Nos ossos quebrados.

Ao poeta Sérgio Bernardo

Acorde poeta
Vá viver a vida
Porque sua poesia
Já se misturou
Com toda a sua existência
Porém, você não passa
De uma fotocópia
Da realidade suja
Nua
Descorada.

Corre poeta
Porque os fascistas já estão a caminho
E eles detestam poesia, não-brancos e artistas.

Voe poeta
Porque a intolerência não respeita o amanhecer
E eles detestam poesia, não-brancos e artistas.

De brisa nos olhos

A casa ainda fede a cravos:
Você fuma ai
Com as janelas fechadas
Então acende um incenso
Mas todos sabem de você
Por causa dos seus olhos
Prefiro as mulheres
De brisa nos olhos.

O primeiro do dia
Se esbarra na cabeça espumando pensamentos
Prefiro as mulheres
De brisa nos olhos.

Você e eu

Só eu sei o que vi
Portões fechados e muros baixos, pichados
Só você sabe o que sentiu
As algemas apertadas.

Só eu sei o que vivi
Na Br-116, em Feira de Santana, em Teófilo Otoni
Só você sabe o que aconteceu
Choques elétricos, poesias e flores.

Só eu sei o que passei
Quando entreguei meu corpo de braços abertos
Só você sabe o que escutou
Verdades alucinadas e sonetos.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Cruising - um ensaio poético


CRUISING

um ensaio poético

sabiá
coitelinho















A SUJEIRA DAS 

RUAS

Entre, sem fazer barulho
Aproveitemos
Este curto momento
Em que o mundo baixou a guarda.

Entre, sem ninguém te notar
Pois eu sei o que queres
Trago na palma da mão, cortada.

Entre, sem reparar em nada
Não temos muito tempo.

CRUISING (I)

En las calles sucias
Cuando estés en el baño
Te olvidas de mí
Yo no te olvido por nada.

He fumado cigarrillos
Por las plazas donde vuelvo
Sabes lo que quiero
Yo no sé lo que quiero.

El bareback de nuestros días
Se mezcla con las esquinas
Te gusta y no sabes
No me gusta como antes.

CRUISING (II)

El amor de los bajos fondos
De los chicos
De las noches sin otoño
De la oscuridad
De los baños
De los lugares sin adjectivo.

El amor de las caras rotas
De la basura cotidiana
Que no eliminamos de dentro.

El amor de los asesinos
De las putas viciosas que nos miran
Com sus ojos cerrados.

TANGO

Talvez todos estejam certos
Não deve haver mais tempo
Para nós dois
Bebermos um copo d'água
Lembra quando a gente gozava
Bebendo água nas nossas próprias mãos?

Eu não sei o que pensas
Pare de escutar essas vozes
Que só existem
Dentro dessa tua mente perturbada
Lembra quando a gente gozava
Bebendo água nas nossas próprias mãos?

Todas as minhas poesias
São de amor, sabes muito bem
Não passamos
De um tango antigo na vitrola
Lembra quando a gente gozava
Bebendo água nas nossas próprias mãos?

BAREBACK

A primeira vez
Fumamos juntos o mesmo cigarro
Depois você me disse
Determinadas atrocidades
Que eram as mais lindas do mundo.

A última vez
Eu me lembrei do primeiro cigarro
Mas não havia
Mais cigarros para fumar
O silêncio deu lugar às reticências.

ESQUIZOFRÉNICO

Hemos vivido
Algo que es raro
A veces me siento vacío
Pero sabes lo que pienso
Por más que no comprendas
Has leído en  mis manos
Eres tú
También
Una de esas voces
Que laten en mi mente,

sábado, 9 de maio de 2015

Ensaio poético: POESIAS SEXUAIS E OUTROS DIAS

ENSAIO POÉTICO



POESIAS

SEXUAIS


E OUTros dias







POR QUE FALAR DE AMOR?

Por que falar
De amor?

Fumando um baseado
Não conseguia entender o que
Estava escrito naquele livro
Seus olhos fugiam
Em detalhes e imperfeições.

Por que falar
De amor?

Se masturbava com a cara
No azulejo geométrico
O mundo fingia não perceber
Mas a mente estava numa embalagem
Ilustrada de sabão em pó.

Por que falar
De amor?


TARADO

Sou tarado
Pelas meninas
Avenidas
Tangerinas e pequis.

Sou tarado
Por todos do signo de escorpião
Seja lá o que isso signifique
Não creio nestas bobagens.

Sou tarado
De rola dura
Bem cedinho
De manhã cedinho.



VAGINA

Quando chove nos trópicos
E o sertão pode experimentar
A cor verde
Mesmo que muito ligeiro
Flores de todos os tamanhos
De todas as tonalidades
Flores
Tão belas
Que dá vontade de comer.

Flores tão impávidas
Tão belas
Que dá vontade de comer.


A CIDADE PORNOGRÁFICA

A cidade pornográfica
Se gozou inteira
Mas não conseguia de jeito nenhum
Pegar no sono.

A cidade pornográfica
Onde pau e buceta
Não estão em vitrines
Estão na calçada.

A cidade pornográfica
Amanheceu numa boca de fumo
Transava como puta
Em troca de pedras de crack.


SEXO

Enfiava a rola
Enquanto você
Me dizia
Algo que não lembro
Não conseguia
Entender nada
Mas que por um motivo
Não definido
Tem me atormentado tanto.

SABIÁ COITELINHO, 9 DE MAIO DE 2015.